Querido bloco,
Não posso nem ver-te …
Andas comigo para trás e para frente e nem coragem tenho para te abrir. Talvez tenha medo ou um bloqueio qualquer. Mas nem a ti te posso usar, desculpa.
Os pensamentos atropelam-se, passam por túneis e viadutos, mas vão sempre parar àquela imagem. Se eu soubesse desenhar era tudo mais fácil. O desenho vai directo ao destinatário é muito mais objectivo do que a escrita. Muitas vezes, diz mais do que meio metro de palavras.
E se eu tentasse pincelar as palavras, querido bloco ? ! Vou abrir -te …
Invejo as cores com que acordas e te deleitas ,ao final da tarde, a tomar um copo de vinho. Trocava o champanhe que uma vez tomei ao pequeno almoço,em modo teleponto, por um singelo café numa chávena da Tofa (oferecida por um qualquer distribuidor). Soubeste escolher a mais bela palete de cores para viver… da mais escura à mais clara. Criaste um paraíso sem precisares do arco íris. A escolha não é em vão, é fruto de toda a tua estória, mesmo quando fazes história. Sinto, essa paisagem, como um espelho de muitos sucessos e dos poucos insucessos (dos quais não tiveste culpa).
Na água encontra-se o reflexo dessas cores. Na minha vida, o sonho sempre fez parte da água e tu tens o que a água simboliza ao teu redor, por isso, sabes que nunca estás só. A mescla de cores que envolve o teu casulo é ” um excesso da natureza”. Sinto-te menos inatingível e misterioso, no meio de tantos fenómenos da natureza, do que naquele apartamento, que é decorado por ti, onde estás entranhado. Já tive um maior interesse e curiosidade pelo teu percurso amoroso do que o que tenho hoje em dia. Tenho a certeza que junto à margem, perto daquela árvore diferente, a teu lado e em silêncio, tinha todas as respostas, embora, na realidade, não sinta mais vontade de saber nada da tua vida. Só gostaria, respirar o mesmo ar que tu, lado a lado, nesse teu lugar, para sentir a insustentável leveza do ser.
Maria Emília

