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Natal no bairro africano

Noite da consoada. É inverno no bairro. Frio, escuro, húmido, sombrio. Os putos brincam na rua. A escuridão da noite não lhes tira o brilho do olhar. O frio que se faz sentir não lhes enrigesse o sorriso. Roem maçãs pela rua, num mar de gargalhadas, danças e chutos na bola. Numa das casas do bairro (social) reúne-se a família, família da família, amigos que são família. Se o natal é apenas família, então, a prosa acaba aqui.

Mas há mais. Cores, cheiros, sabores que a memória guarda tão bem. No bairro sequer surge no imaginário. Há panelas grandes cheias de cachupa e cocada. Há água da torneira, cervejas e whisky barato. Mornas e saudades atravessam as paredes e o mar. Os putos felizes na rua.

É tudo diferente no condominio ali ao lado. Não é um continente que os separa. São muralhas de insensibilidade feitas gente indiferente.

Os putos do bairro não sabem a magia do natal: da cocacola; dos doces; dos presentes, da lareira; do presépio. Mas vivem uma realidade mágica. A liberdade de serem crianças. Feitas de tombos; cicatrizes; rotos; constipados; amarrotados; sem colo. Flhos de sobreviventes migratórios. No fim da Saudade, da Mãe Cesária, cantam Vida, Amor e Solidariedade. No bairro é que é Natal. @quequesasextafeira

A liberdade de serem crianças.

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