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Cheque-mate à fibromialgia

Nem bates à porta, arrombas e vens direitinha a mim. Bates- me, bates-me, bates-me…já eu estou mais do que rendida e tu continuas a torturar-me.
Não deixas marcas, propositadamente, para me fazeres passar por maluquinha, fiteira, preguiçosa. És maquiavélica. Só me dás tréguas quando me pões a dormir, como fez a bruxa, com veneno, à Bela Adormecida.

Só que eu não tenho nenhum príncipe tão valente e eficaz.
Tiras-me minutos, horas, dias, meses de vida. Obrigas-me a drogar-me, mesmo sabendo que a droga não é milagrosa. Tentas iludir-me de má fé. 
Não mataste uma parte de mim, fizeste pior, deixaste essa parte em sofrimento, angústia, tristeza, desalento…Por várias vezes, te tenho estampada no rosto, não há maquilhagem que resolva, porque tu estás espelhada no meu olhar.
Atiraste-me para uma montanha russa com alguns loopings, os de sol e calor, trocaram-te as voltas. Sorrio, rio, convivo, passeio, leio, amo, enamoro-me, enfim… vivo! E não me alongo mais porque não é viver que custa, o que custa é viver contigo. 
Destruiste o meu pilar, aquele que aguentava tudo.

Sinto-me uma autêntica mulher-a-dias, o que, em parte, me obriga a uma disciplina e horário e finjo que trabalho, como todas as outras pessoas. Sempre trabalhei muito e era muito realizada.
Roubaste-me alguns bons amigos. Perdi-os para ti. Não me posso comprometer com encontros e falhar, como já aconteceu ao longo dos anos, porque tu apareces sem me avisares. E, no fim de tantos convites recusados, desistem de mim, até porque muitos não sabem que tu existes.
Como sabes, só meia dúzia de pessoas, sabe da nossa relação. Não te dou o gozo de terem pena de mim, de me olharem de outro modo que não aquele que estão habituadas. Por isso, prefiro ficar a sós contigo, lutanto, lutanto…caindo, levantando.
Há uma coisa que nunca estragaste nem estragarás, os momentos incríveis, inimagináveis, surpreendentes, de trementa felicidade. E como a vida é feita de pequenos/grandes momentos de felicidade, eu não perco nem um!
E é a colecção que tenho no coração desses momentos e dos que ainda estão para vir, que te reduz a zero. Eu não tenho medo de ti. 
Afinal de contas, eu faço-te um cheque-mate, cada vez que a felicidade me invade. Nunca te assumirei, nunca! Porque eu estou a construir a minha própria montanha russa, num lugar bem distante de ti.

Maria Emília.

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