Agosto ou Janeiro, venha o diabo e escolha. Embora prefira o Sol e o calor, não é o bastante para suportar o mês de Agosto. Uma espécie de Arca de Noé, onde embarcam tudo e todos, de norte a sul do país. Mas hoje falo só dos emigrantes. As aldeias são temporariamente elevadas a vila. Os emigrantes, mais conhecidos por “avecs”, vêm agitar o quotidiano, com tiques de superioridade saloia, utilizando com frequência a língua de “l’amour” misturada com a língua da pátria. No tasco, na casa do povo, na praia fluvial… quando o caldo se entorna, vem todo o rosário de “asneirolas”, calão, de inspiração “três F”. Tal como nunca subiram à Torre Eiffel, também não se afastam muito da aldeia. Pintam e repintam a casa, trocam as louças sanitárias, sacodem os lençóis que tapam as mobílias e voltam a colocar. Recebem a família e os amigos no quintal pois em casa só entra o padre. Vão às festas na praça do coreto, comem torresmos, bebem o vinho do pipo, compram rifas, assistem com muita emoção aos concertos de músicos pimba. Pouco circulam com os carros, mas lavam-no, várias vezes, com a mangueira da casa, como se a nossa água fosse benta. Contudo, não limpam o pó à Nossa Senhora colada no tablier, ao crucifixo pendurado no espelho e à cadela Alsácia, pomposamente sentada no tampo da bagageira, não vá o Diabo tecê-las. Aproveitam para casar e batizar os filhos. Os homens trocam as mangas cavas por um fato herdado do tetaravô. As “madames e moiselles ” vão à feira da galinha e do piriquito comprar os vestidos. Escolhem modelos de cores tão brilhantes que até ferem a vista, não bastasse, com lantejoulas, folhos, laços, “pérolas” (da coleira do gato)…e o sapatinho de salto envernizado, que a caminhar mais parece que estão aflitinhas para fazer xixi. A boda, realizada normalmente numa sociedade recreativa, não tem miniaturas de salgados ou petit gateaux, é mesmo o que se chama de enfarta-brutos. Quando começa a tocar a banda, o momento alto da festa, já com os homens bêbados a falar de futebol e das francesas, elas dançam umas com as outras, numa animada galhofa, qual baile de debutantes! A pista abre ao som José Malhoa “apita o comboio” e termina com “Bacalhau à portuguesa” de Quim Barreiros. Na despedida, junto à fronteira, falam para a televisão, prometendo que para o ano há mais. Et vive les Tugas !
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