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Tão Prostituta viagem

– Sim, eu vou. Respondi. Durante anos e anos, não sabia a pergunta, mas a resposta sempre esteve amordaçada na ponta da língua. Senti-me como se um “exército” de borboletas me estivesse a invadir. Precisava de um lugar para as fazer pousar. Fui para a beira rio e perguntei-lhe se o podia sobrevoar. Aconselhou-me a contemplar o pôr do sol e a viajar quando rompesse pela manhã. Dormi em Timor e acordei em Portugal. Não queria perder o Sol. À hora combinada, lá estava eu, fiz o check in e logo de seguida avistei-te. Sentei-me ao teu lado e assim permanecemos em silêncio. Aquele “sim” tinha uma estória tão intensa que qualquer outra palavra o fazia esfumar-se. Como já iamos no fogo, a respiração de cada um já nos deu muito trabalho.

No ar, território de todos e de ninguém, começámos a sentirmos-nos atropelados pela respiração do outro. Valeu-nos a aterragem e, finalmente, cumprimentámo-nos. A nossa viagem começava ali. Pela primeira vez, senti que não nos conheciamos. Qualquer viagem nos transforma, nos faz descobrir algo em nós que desconheciamos. Cada um faz a sua excursão interior. A bela cidade por descobrir pareceu-me mais familiar do que tu. Nem me senti como turista. Parecia que já tinha jantado ali contigo, numa esplanada, ao entardecer, um calor húmido, junto à ponte iluminada, duas taças de champanhe, uma soprano e três saxofonistas. Vivemos aqueles dias como duas orquídeas selvagens. Foi uma viagem tão prostituta…

quequeasextafeira

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