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Lingerie de seda

Gostava de te guardar numa caixa, numa bela caixa. Imagina… Enfeito-a com as cores das acácias e perfumo com folhas de hortelã. Ninguém dirá que era caixa da minha lingerie encarnada. E tu nunca comentarás com ninguém, como sempre! Sentes-te aconchegado, na copa do corpete, aquecido pela cor. Movimentas-te em círculos, de pernas para o ar, na diagonal e na horizontal, passando de uma copa para outra. Não tinhas horas para dormir. Só paravas quando o corpo te pedia encarecidamente. Adormecias com a cabeça pousada na parte do tecido triangular das minhas cuecas. Há muito que ansiavas fugir do rebuliço da cidade e de todas as pessoas. Sentiste-te como nunca e isso impressionou-te. Tiveste a sensação que tinhas vivido pouco e/ou mal. A idade também já fazia com que vivesses estes momentos, saboreando, sentindo com mais intensidade na alma e no corpo, apreciando com prazer redobrado e gozando por todos os poros. Nem sequer sentias fome, mas precisavas de te alimentar. Deixava folhas frescas de amoreira branca em cima das minhas ligas. Desapareciam rapidamente. Com as tuas delicadas mãos de artesão, sujas com fios de fibra muito fina, puxaste-me para ti. Vestiste-me a lingerie, ao mesmo tempo, que ias tecendo um casulo à nossa volta. Apanhamos-nos livres das leis do Homem e ficamos presos às leis da Natureza. Nessa prisão descobrimos a liberdade. Finalmente, pude sentir-te como homem, sem máscaras, sem nenhum compromisso, sem cerimónias. Voamos despidos pelo teto do Mundo. À procura do mais belo lugar, para parir um amor único, inconfundível, genuíno, suave como a seda. quequeasextafeira

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