Uma amiga diz-me que de um homem quer tudo o que merece; e se eu não achava que tinha razão. “Não, não tens”, disse de rajada. O seu semblante espelhou uma mistura de desilusão e raiva. Com ar altivo, mas timbre inseguro, responde-me: “Para estar com qualquer um, prefiro ficar só”. A “boca” era para mim. Permaneço como árvore de folha persistente. Sem fala e firme nas minhas convicções, contra qualquer tempestade. Quem me dera poder abrir-lhe a cabeça. Bem sei que parte desse imaginário foi sendo construído na infância, com os contos ocidentais, dos príncipes e das princesas. Tal como o tratamento diferenciado que um pai dá à filha, em relação ao que dá ao filho. O pai é mais cuidadoso, carinhoso, compreensivo, protetor…com as meninas. Mas, afinal, para que serve o primeiro amor, senão para te provar que andaste esses anos iludida. E, para merecer, no amor, é porque fizeste algo a mais e estás arrependida. Não há balanças nas relações afetivas. A existir, chama-se remorso, mas não porque te amem. Simplesmente porque se sentem frustrados. Em qualquer idade na vida se podem romper barreiras físicas e emocionais. Primeiro há que descobrir em nós o que realmente queremos. Não é como ir ao restaurante para comer peixe, vês toda a gente a comer cozido à portuguesa e mudas de ideias. Nas relações não é carne ou peixe. Há uma panóplia de opções que tens que descobrir. Não há um estereótipo como normalmente se tem pelo modo como fomos educados. Predispõe-te a errar até poderes acertar no homem que está mais próximo do que te satisfaz a ti, não aos teus pais e à sociedade. Não existe o homem que nos dá o que merecemos. O que existe é o homem por quem lutamos e nos dá aquilo que desejamos. Porque na realidade ninguém merece tudo e tudo é muito vago, acaba no fim por não ser é nada.
No amor, faz como nos banquetes, guarda-te para o fim, é sempre a melhor parte. Até lá, entretém-te com acepipes. Mais vale viveres mais tempo à procura do homem que desejas, ao invés, de viveres a vida inteira com o homem que finalmente nunca desejaste. Às vezes, é preferível querer apenas a uva do que todo o cacho.quequeasextafeira

