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Aventura da compra de material escolar

O final das férias grandes é sempre uma altura de grandes mudanças e de reajustamento das famílias. Nomeadamente no regresso à escola. A compra de material escolar é o momento mais desejado das crianças e dos pais também. Assemelha-se ao dia da noiva provar o vestido de casamento.
As grandes superfícies têm uma afluência idêntica à da quinzena do Natal.
Entrar para comprar pão, um pacote de leite e fruta, é como entrar num labirinto, num qualquer parque de diversões.
As pessoas atropelam-se e ainda exibem a sua falta de educação. Transportam listas de material, os filhos e companheiro/a. 
Ver lápis, cadernos, dossiês, etc, a entrar e a sair dos carrinhos é frequente. Encontrar adultos e crianças a discutir a cor do estojo à frente da prateleira do papel higiénico, é natural ( já foram empurrados para ali por outros consumidores de estojos). Os pais querem as cores dos seus clubes de futebol no material corrente. Não é este, de todo, o critério da criança. Em meia hora, faz-se uma estatística do clube com mais adeptos, naquela região.
As mães desviam-se das cartolinas retiradas das prateleiras, enquanto discutem com as filhas o aroma das canetas. A mãe quer fazer prevalecer as que cheiram a canela. O sabor dos primeiros beijos que deu (com a chiclete de canela colada ao céu da boca). A filha faz uma birra por causa das de morango, enquanto as vê desaparecer. A criança sabe que é o seu último recurso e resulta sempre.
Ouve-se um pai, muito empolgado, a dizer ao filho que leve o caderno do Homem-Aranha, a borracha do Batman e o lápis do Hulk. O miúdo tem medo de aranhas, não gosta do preto e não vê nada de atraente no Hulk. Quer tudo do Minecraft.
Habitualmente, o último corredor a fazer é o das réguas, compassos, transferidores. Nesse concentra-se pouca gente. Não é atrativo. É tudo igual, só diferem as marcas. No entanto, ouvem-se uns gritos finais “A régua é de 30cm ou de 50cm?”. Alguém responde ao calhas, “30cm”.
Para terminar, passam pela livraria com ar de académicos e escolhem um Caderno  Auxiliar de Estudo (fichas) para fazer ao longo do ano. As editoras são mestres no marketing. Sentem que os filhos vão rebentar a escala da avaliação. Mal cheguem a casa, onde puserem o livro, é exactamente onde o vão encontrar, no fim do ano letivo. Felizmente!
Na face das pessoas vê-se o medo de não conseguirem chegar a tempo aos clipes às bolinhas ou aos pioneses de tutti fruti; a transpiração pelos kms percorridos, para trás e para a frente, entre meia dúzia de corredores; um ar de superioridade intelectual quando o carrinho está a rebentar de materiais; um sorriso convicto de quem faz tudo pelos filhos.
Preparam-se para o sprint final em direção às filas intermináveis para as caixas.
Entre aquele cenário e a IC 19 venha o diabo e escolha.

Tudo isto era tão escusado se as pessoas pensassem. Normalmente, as crianças já sabem o que querem e do que precisam para levar para a escola. Basta estar atento aos seus interesses. Percebe-se logo a coleção dos heróis que vão escolher para o seu material. As listas são prints dos anos anteriores. Os livros de fichas são para verificar a quantidade de ácaros que se acumula na casa, durante um ano letivo. O hipermercado não saiu do mesmo lugar. Mas escusado mesmo era esta brutalidade de materiais.
Para aprender nada disto é necessário. Este frenesim em que os pais se vêem metidos, entrando com uma criança pela mão e saindo com um burro de carga pela outra, só serve os interesses económicos das empresas e fortalece o monopólio das editoras. Como ainda justifica a mediocridade do ensino. Que é o que ninguém vê ou não quer ver! Autor. quequeasextafeira

A caminho de quê?

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