#destino, Amantes, Relações entre pares.

Uma mentira no seu dedo

Casa-se. Dirige-se para o altar. Invisível aos olhares, leva consigo Madalena. Paixão intensa, profunda, sofredora. Paixão! Durou três estações.

Madalena fora estudar para fora. Conhecera outro jovem e deixou-o. António emagreceu. Perdeu a cor, o ânimo, o vigor.



Estremece ao ouvir a marcha nupcial. Maldito Wagner. A mãe faz-lhe sinal. Vira-se para ver a noiva entrar. Maria do Carmo é a felicidade andante. Sente-se mais seguro. A chave. Tinha três hipóteses. Esquecer. Amar. Desistir. Olha para o pai. Vê um homem orgulhoso. A mãe, por sua vez, depositava toda a Fé no seu casamento.

Ouve em surdina. “Casou-se bem”. Não conheceram Madalena. A sua pétala malmequer. Carmo…”a minha mulher”. Soou mal. Como a música de “Consagração à Nossa Senhora”. Quis o seu nome. Sente-se numa relação de consanguinidade. A aliança. Uma mentira no seu dedo. Uma escritura de comunhão total de bens. Afinal, resumia-se a isso. Conclui António. @quequeasextafeira

                                                  A sua pétala malmequer.

#destino, #tesao, Relações entre pares.

Drogue-me, então…

Os dois não crêm no destino. Também não precisam. É completamente irrelevante. Passam a “Patra”, o Século e a Pandemia. Onde é que já não vai o destino! O tempo voou. Como tinha de voar. Nem mais nem menos. Ambos, não são como os pombos. São livres. Porém, padecem da liberdade dos afetos. A mulher, por vezes, sente uma súbita vontade de o puxar para si. Assim, de repente, como se acordasse de uma anestesia. Prepara-se para a fuga. Qual leoa! Sem se acobardar, sem duvidar, sem hesitar. Se o destino fosse uma realidade, não fugia. O predestinado, para ambos, nunca, seria posicionarem-se em simetria. Como não creem no fado, a mulher, não deixa a tesão em casa alheia. Drogue-me, então…

A vida só vale pela vida. Por mais nada. quequeasextafeira

A vida só vale pela vida
#beijo,#kisses, Coronavirus, Enamoramento, Relações entre pares.

Jasmim em tempo de pandemia

Recebi o teu convite para vires a minha casa. Se o fizesses de véspera não teria acordado. Esperaria na cama por ti… Ainda tinha tempo. Tomei um banho perfumado, de jasmim, e gel espumante, de leite de burra. Cada poro da minha pele foi infetado de perfume. Queria contagiar-te de meu corpo. A fragrância do jasmim agravava a minha ânsia. Os meus seios palpitavam. O vestido, da cor da Lagoa do Fogo, só tinha uma alça para se enfiar no pescoço. Fiquei com os ombros e o colo a nu. O decote fechava nas pregas dos seios. Pus um pequeno brinco, de prata, na orelha esquerda. Descalça e sem maquiagem. Estava pronta para os minutos que me desses de atenção. Podias ser areia, rocha ou pedro, sentia-me atraída por mim. Ouvi o som e não hesitei. Não se desperdiçam segundos de ti. Ao ver-te, ao ouvir-te, coloquei uns fios com missangas nos tornozelos. Fiz a dança do ventre para que te perdesses na leitura dos meus movimentos.

Os braços em movimentos de serpente, serpenteiam os teus cabelos. Já é outono no teu cabelo. Senti o tempo que passou ao tentar fazer-te um caracol com um fio de cabelo. Formidável…como a vida vai passando e caíndo entre os dedos da mão. Esta lembrança fez-me rasgar a cortina de seda transparente. Ousadamente envolvi-te numa espécie de teia. Entrei com beijos de alpinista enquanto fazias apneia. Quando nos encontrámos, olhos nos olhos, não resististe aos meus lábios, muito bem delineados e sem batom. E… Deixas cair a pauta e beijas-me sem Dó. Cada movimento das nossas bocas já não é preliminar. É amor que se faz. Nos lábios sentimos os orgasmos um do outro. São beijos do século passado. Fazes crer que o poder é da flor do jasmim. Concordo com a tua mentira. Quando vou olhar para ti fazes “Esc”. Assim, trepa a flor de jasmim em tempos de pandemia. quequeasextafeira

Jasmim em doença covid19

Relações entre pares., Sem categoria

Por um metro

Apenas um metro os separa. Passam por dois séculos e o metro mantém-se. A distância é que parece do tamanho da Muralha da China. O que os afasta é a individualidade de cada um e a desigualdade da relação.
Havia uma fronteira estreita que fazia lembrar a Faixa de Gaza. Paradoxalmente, existia: suavidade; honestidade; espontaneidade; seriedade; intimidade e uma cumplicidade perene. Como se estivessem numa ilha deserta.
Não são interrompidos por nada exceto pelo lapso de tempo que existe entre os dois. Ele é uma máquina que foca e filtra. Ela um dispositivo que às vezes fica sem megabytes. É necessária muita lucidez e coragem para passar pelo tempo sem sair do mesmo lugar.

Ele foca e filtra.