#beijo,#kisses, Coronavirus, Enamoramento, Relações entre pares.

Jasmim em tempo de pandemia

Recebi o teu convite para vires a minha casa. Se o fizesses de véspera não teria acordado. Esperaria na cama por ti… Ainda tinha tempo. Tomei um banho perfumado, de jasmim, e gel espumante, de leite de burra. Cada poro da minha pele foi infetado de perfume. Queria contagiar-te de meu corpo. A fragrância do jasmim agravava a minha ânsia. Os meus seios palpitavam. O vestido, da cor da Lagoa do Fogo, só tinha uma alça para se enfiar no pescoço. Fiquei com os ombros e o colo a nu. O decote fechava nas pregas dos seios. Pus um pequeno brinco, de prata, na orelha esquerda. Descalça e sem maquiagem. Estava pronta para os minutos que me desses de atenção. Podias ser areia, rocha ou pedro, sentia-me atraída por mim. Ouvi o som e não hesitei. Não se desperdiçam segundos de ti. Ao ver-te, ao ouvir-te, coloquei uns fios com missangas nos tornozelos. Fiz a dança do ventre para que te perdesses na leitura dos meus movimentos.

Os braços em movimentos de serpente, serpenteiam os teus cabelos. Já é outono no teu cabelo. Senti o tempo que passou ao tentar fazer-te um caracol com um fio de cabelo. Formidável…como a vida vai passando e caíndo entre os dedos da mão. Esta lembrança fez-me rasgar a cortina de seda transparente. Ousadamente envolvi-te numa espécie de teia. Entrei com beijos de alpinista enquanto fazias apneia. Quando nos encontrámos, olhos nos olhos, não resististe aos meus lábios, muito bem delineados e sem batom. E… Deixas cair a pauta e beijas-me sem Dó. Cada movimento das nossas bocas já não é preliminar. É amor que se faz. Nos lábios sentimos os orgasmos um do outro. São beijos do século passado. Fazes crer que o poder é da flor do jasmim. Concordo com a tua mentira. Quando vou olhar para ti fazes “Esc”. Assim, trepa a flor de jasmim em tempos de pandemia. quequeasextafeira

Jasmim em doença covid19

#beijo,#kisses, Enamoramento

Cem beijos

Cem beijos me apanhas
Apenas o cigarro levo à boca
Tenho pressa da nossa vida boêmia
da teimosia dos beijos em Paris
Os teus lábios agora a cadeado
deixam de ser fantasia

Beijar de modo errante
como dois vagabundos
Enamorados impetuosos.
Acabe o jejum cem beijos

Florença o centésimo primeiro beijo

Do amor depois da pandemia

quequeasextafeira

Coronavirus, Sem categoria

Covid 49

Para grandes males, grandes remédios…Do it ! quequeasextafeira

Enamoramento, Sem categoria

O quiosque adormecido

A minha casa ficava numa pequena praça. Pequenos prédios já muito antigos cor de café com leite e verde azeitona, rodeavam a praça. Havia um pequeno café, um lugar onde se vendia fruta, legumes e alguns produtos de mercearia, uma farmácia. Quatro árvores de folha caduca, um bebedouro e quatro bancos de jardim com a tinta muito gasta. No inverno, praticamente, só se viam pombos, na praça. Só era simpática, na primavera, com as árvores cheias de pequenas folhinhas e o movimento das crianças animadas, felizes, por já poderem ir brincar para a praça. Era, portanto; escura, feia, fria e “triste” durante quase todo o ano. Não fosse o quiosque, eu não saberia distinguir o feio do belo, a tristeza da felicidade. O quiosque era todo cinzento, com um aspecto muito velho (estragado pelos anos). Mas era de uma beleza “adormecida”, incomparável.

O senhor Augusto, dono do quiosque, era muito sisudo e antipático. Vendia tabaco, jornais, lotarias, pilhas, pastilhas e rebuçados. Ninguém se perdia a conversar junto ao quiosque. Não era nada convidativo. Os habitantes referiam-se a ele como “a barraca”. Não conhecia nada na cidade mais belo do que o que o quiosque da minha praça. Se eu pudesse levava-o para casa. O telhado era formado por triângulos e pequenos adornos fazendo lembrar a arquitetura oriental. Ou aquelas belas gaiolas do Oriente. As pequenas janelas de vidro estavam muito sujas e com pequenas rachas, das fisgadas dos miúdos.O Sol batia nelas refletindo uma luz “desmaiada”. As portadas de madeira tinham a tinta a estalar e chiavam, ao abrir e fechar. Eu tomava as dores do quiosque. Preenchia o meu imaginário e o sonho de conhecer o Oriente. De descobrir o amor pela mão de um homem oriental. Daqueles de olhos claros, morenos e cabelo encaracolado nas pontas. Um dia, tive de sair da praça e fui viver para longe. Durante duas décadas, não quis lá voltar. Tinha receio que o quiosque tivesse desaparecido. Era o mais provável, com a desenfreada urbanização e consequente desaparecimento de quiosques, cabines telefónicas, marcos do correio… Num momento da vida mais difícil, resolvi ir à praça. Não tinha nada a perder. Nem fui ao Oriente nem descobri o amor. Aproximo-me da praça com o coração a bater, como adolescente que vai ao cinema com o primeiro namorado. Vislumbro um “Império”. O quiosque era a atração da praça, inclusive para os turistas. Todo restaurado e pintado de cor de cereja. As janelinhas pareciam de cristal. As portadas envernizadas acentuavam o brilho que durante anos só eu via. Tornou-se o altar da praça.

Encostei-me à árvore ( que ainda lá estava) e fiquei a observar o “meu” quiosque. Alguns turistas tiravam fotografias, fascinados, siderados. No meio deles, vejo um homem muito parecido com o tal homem oriental. Percebi que se desejarmos muito uma coisa, mesmo durante algumas décadas, a magia acontece. Quequesextafeira

Desejo do Oriente

Enamoramento, Sem categoria

Domingo vou dormir a Veneza

Não sei quase nada a teu respeito. Sempre te vi à distância e esporadicamente. Assumo a minha atração, desejo, vontade, de te conhecer. És meu delírio há dezenas de anos. Agora que me chamas assim repentinamente, sinto-me planeta à volta do Sol. Acordar na minha cama e à noite dormir na tua ainda não parece verdade. Vou a voar, mas chego uma hora mais tarde. Espera serenamente para me acolheres nos teus braços e me dares um beijo húmido. Estas borboletas, no meu estômago, bailam com mais intensidade. A sensação que tenho é que me estão a desafiar para que me entregue logo a ti ao passar pelas nuvens. Tenho a convicção de que ainda és mais sedutora do que aquilo que imagino. Tens semblante de Giacomo Casanova e som perfumado de Vivaldi. Se no teu leito renascer, amar e morrer de amores, fico tua refém.Prisioneira afortunada serei.No domingo dir-te-ei: – Buona sera, Venetia.

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Dia dos namorados

Dia dos namorados

O Dia dos Namorados ou dia de São Valentim mais parece uma versão Red, da Black Friday. Este dia surge de uma história belíssima de um bispo romano chamado Valentim. Um santo reconhecido pela igreja católica e pelas igrejas orientais. Mas isso ninguém quer saber. Quinze dias antes da sua comemoração começam as promoções de São Valentim. Nas boutiques, relojoarias, sapatarias, lojas de mobiliário, papelarias, restaurantes, hotéis, alimentos, cabeleireiros, massagens,etc. Mas no top de vendas ainda estão os peluches. Quem é que consegue resistir aos ursinhos e “ursőes” ? Às almofadas vermelhas cheias de pelos ? A escolha deve causar uma grande ansiedade. Há os grandes, médios e pequenos. E as frases que vêm escritas no coração que o urso segura ? Deve ser muito difícil escolher entre “Amo-te”, “És o melhor namorado/a do Mundo” e “Adoro-te”. Com as almofadas passa-se o mesmo. E depois desta maratona ainda têm de treinar a dicção para dizer “urecinho” para o seu amor. Nestes dias, andar num shopping é ver mais corações por todo o lado do que estrelas se batesse com a cabeça. Isto é só o começo da preparação para a comemoração. Falta comprar a roupa, os sapatos, a lingerie, a maquiagem e ir ao cabeleireiro. No meio de todas estas tarefas ainda é preciso ligar à amiga para pedir opiniões acerca das suas escolhas. As mulheres perdem muito mais horas para a noite especial do que qualquer homem. Confesso a minha fraqueza perante estas super mulheres. Se fizesse tudo isto num dia, chegava à hora do tão esperado jantar e já estava mais morta do que viva. Acho que optaria por vestir o pijama, deitar-me no sofá, encomendar uma pizza e ver um filme romântico na Netflix. quequeasextafeira.home.blog

Dia dos namorados

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Se o coração fosse corajoso e bailarino

Queria ter um coração corajoso e bailarino. Corajoso, para pedir que dances comigo. Bailarino, para acompanhar o teu passo. Quero que comandes o nosso ” ballet “. Que escolhas um palco na montanha virado para o lago. Não me podias ter levado para a mais bela montanha. Mas o meu olhar só se fixa no verde das tuas feições e no azul como sempre te vi. Tapas-me o céu e a montanha. Teu corpo parece uma árvore centenária que ainda aguenta mais um século, sem esforço. Podias não ser tão belo. Assim não me deixas apanhar uma papoila e ver o pôr do sol. Suavemente colocas a mão nas minhas costas para iniciarmos a dança. Fiquei tonta como quem anda às voltas até cair. Sentes o meu corpo leve e solto. Danças como se voasses ao lado de uma andorinha. Se o meu coração fosse corajoso, dizia-te que precisava do teu amor. Se fosse bailarino, dançava em teu redor como se fosses um varão.

Mas o meu coração é desajeitado para o amor e para a dança. Por outro lado, é suficientemente forte para fazeres de mim a perdiz que caças à distância apenas com uma bala. Peço-te para parares o baile senão eu nunca mais pararia.

A água que escorre da nascente para o lago é límpida, fresca e cristalina. Sugeres que bebamos daquela água. Se o meu coração fosse bailarino trazia-te a água à boca. Se fosse corajoso roubava-te um beijo, honestly.

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                                                    Quero que dances comigo.

Relações entre pares., Sem categoria

Por um metro

Apenas um metro os separa. Passam por dois séculos e o metro mantém-se. A distância é que parece do tamanho da Muralha da China. O que os afasta é a individualidade de cada um e a desigualdade da relação.
Havia uma fronteira estreita que fazia lembrar a Faixa de Gaza. Paradoxalmente, existia: suavidade; honestidade; espontaneidade; seriedade; intimidade e uma cumplicidade perene. Como se estivessem numa ilha deserta.
Não são interrompidos por nada exceto pelo lapso de tempo que existe entre os dois. Ele é uma máquina que foca e filtra. Ela um dispositivo que às vezes fica sem megabytes. É necessária muita lucidez e coragem para passar pelo tempo sem sair do mesmo lugar.

Ele foca e filtra.
Natal 2019

O vestido de cera verde

Visto o meu vestido de cera verde até aos pés e coloco um pavio na cabeça a fazer de bandelete. Verde da tua cor e de todos os desejos do Mundo. Com um suspiro acendes-me o pavio. Fico toda iluminada como a estrela de Natal. Não prometo saber guiar-te que eu do Mundo pouco sei. Com as rosas frescas e vermelhas, faço uma gargantilha, do tom da nossa união. Que não é vermelho de fogo nem de paixão. É aquele nosso tom que não tem explicação. A rosa ainda é a flor mais suave para ter junto ao pescoço. Se tiver de dançar uma música de natal que a gargantilha me escorra para dentro do vestido. Assim, quando ele derreter fico ainda mais natalícia. Para terminar, vou colocar os brincos dourados, para dar um toque de brilho, ao meu vestido de cera verde. Estou pronta para me levares à tua mesa de jantar.


Aquilo que se passa num Centro de Mesa de Natal, fica no Centro de Mesa de Natal.
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Centro de mesa

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Quero olhar para si

Indíca acorda antes do dia amanhecer. O céu de um cinzento muito escuro quase não deixa antever o dia. Explosões de gaivotas anunciam tempestade no mar. Sexta-feira de inverno… Procura-o, e ele pergunta :
– Que aconteceu ?
– Quero olhar para si…
Ele retira os óculos da ponta do nariz. A pinta que lhe davam os óculos, pensou para si. O brilho do seu olhar, enquanto o observava fez também o sol, lento, resplandecer. Disse :    -Estou a olhar para si.
-Recordo-me desse seu olhar – diz ele.
Produz-se uma mudança, subitamente, mais intensa. O homem permanece parado, mas inexplicavelmente, Indíca, de cada vez que o observava, ele parecia sempre diferente. Em cada (não) expressão o charme aumentava. Como os nove graus, do início da manhã, já passaram para treze. Não trocava o inverno pelo verão só para o poder olhar, mesmo que, pontualmente. De repente, ele move-se e diz-lhe:
-Vá, não deixe passar a sexta-feira.

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