#erotismo, essência

Semi-nu

Vejo-te semi-nu entre a rede e o mar. Pareces a tua primeira vez. Impreparadamente preparado para ir à escola, ao treino, à faculdade, à tropa, ao primeiro encontro. Hoje não tens maquinista. Estás perfeito na tua eterna imperfeição. Assim, nem parece que não desmontaste a árvore de natal. Toda a vida testemunha. Sem tomar a iniciativa. Chegavas no segundo parágrafo da estória ou nem sequer chegavas! Da tua e da dos outros. O teu corpo, nesta suave transparência, parece tão pouco usado…transpiras inocência, mas dão-te por condenado. Parece que deixaste o cigarro apagado. A tua face tem um tom de outro lugar. Talvez não pertenças aqui. Por isso, és a tua primeira vez, entre a rede e o mar. @quequesasextafeira

A tua primeira vez.
#erotismo, #tesao, sexo

Tentação

Maria procura desesperadamente o prazo de validade da tentação. Daquela tentação. É como um incêndio florestal. Cíclica. Revira a cama toda. Procura o fio dental. Arrancado de véspera. Deixou-se tentar. Permitir-se escolher. Puxou o Valete. Desfrutou. Abusou. Gozou. E. Adormece em copas. Autor quequeasextafeira

Adormece em copas.

Amantes, Sem categoria

Lembranças de corpos usados.

Uma pequena sala. Um biombo de bambu. Uma cesta. Uma lata com variadas folhas de chá. Um pedaço de pano de seda púrpura. O cheiro das folhas de chá era mais intenso do que o cheiro a sexo. Velhas almas… Sem rum. Sem ligas. Sem espelho. Lembrava a noite da consoada. Pouca carne e muita canela. Nostalgia. Lembranças de corpos usados; de cabazes de prazer. Mais sémen do que orgasmos.

O biombo. Belo. Perfeito. Virgem. Adornava a inquietude que ali se sentia. Via-se nas ripas a palma da mão do artesão. A linha pujante da vida. O coração na cabeça. Quantas vezes perdida.

A cesta aquecia a sala. Convidava a ficar. Uma cesta tem pão e vinho. Logo, nada nos falta. Como na ceia de Cristo. Parecia Natal. Era Natal. Agora é sempre Natal. Não são precisos motivos para celebrar; beber; oferecer; rir; chorar; amar. A cesta estava ali, há muitos anos. Como o cinzeiro. Como as paredes. Autor quequeasextafeira

Mais semen do que orgasmos.
Amantes, vinho

Hey – Branco ou Tinto ?

– Hey ! Aquela interjeição apanha-me de costas. Era a minha cruz. Leve. De ráfia como a minha sacola. O timbre daquela voz. Há muito. Não a ouvia nascer assim. Sol. A diferença estava na respiração. Apenas. As falas eram sempre em monóxido de carbono. Aqui, respira-se vinha. Fala-se em oxigénio. Podia ter me interpelado com um: “Uva”. Estamos a 165 metros de altitude. Sinto o vulcão ativo. Gota a gota saboreio a expiração. Do H. Do E. Do Y. Descubro o silêncio dos anos cinquenta. “Hey!”. Vindo daquele corpo?! Extraordinariamente extravagante… Bebo vinho pelo xisto. Provocatoria(mente) digo: – Património Imaterial da Humanidade.
-Ahahah. Noviça. Muito bem!
Quer vindimar comigo. Hum… Videiras infindáveis. Escolho um socalco. Branco ou tinto? Não pergunto. O melhor vinho é o que vai para o convento. Segue-me. No lagar pisamos as uvas. O aroma aguça o apetite. Sugiro irmos para a pipa. – Hey ! Autor.quequeasextafeira

Do H. Do E. Do Y.

Amantes

Um minuto de Lua

Ofereço-te. Toda ela. Vestida de chama ardente. Nem o arco-íris tem essa cor. É a mais bela de todas. Nunca, ninguém viu essa cor. Sentas-te. Aparece a teus pés. Magnífica. Soberba. Deslumbrante. Sensual. Confiante. És Rei. Aí a tens. Nascida para ser tua. Só. Só tua. As velas brancas dos barquinhos invejam-te. As andorinhas e o cargueiro. Nada te faz desviar o olhar. Ela enche-se. De orgulho. Junto a ti nada a faz minguar. Poderosa. Majestosa. Nunca mais a vais esquecer. É uma relação cósmica. É a tua oportunidade. Tens uns minutos. Aproveita bem este meu presente. Sabes desfrutar. Sabes bem o que vale a vida. Ela vai subindo por ti. Entras em êxtase. Ela sobe mais. Ergues as mãos ao céu. Sem telescópio. Sem bússola. Não sabes. Suicidas-te ou atiras-te da ponte. O luar ilumina-te. És Deus. És Rei. És Tejo. Ela é só um satélite. É a lua. É o minuto que eu gostaria de ser. Ofereço-te a última lua cheia do Verão. Autor. quequeasextafeira

#destino

Do medo o desejo

Maria Manuel chegou atrasada à idade adulta. Quinze minutos depois das primeiras pancadas de Moliere. Sentou-se na plateia. O camarote era para um público encarcerado. Exibicionista, ostentativo, pretensioso. A escuridão da sala contrastava com os corpos esguios. Nus. Pintados de cores chamativas. Tremeu. Arrependeu-se de não ter a garrafa. A água afastava o medo. Temeu. Temeu ser crude no mar. Num impulso, subiu para o palco. O ator principal levanta as sobrancelhas e acena. Aquele “sim”… Sentiu-o como encorajamento para o suicídio. Esbofeteou o público. Perto dele, via-se gueixa. Do camarote ouviam-se risos de regozijo. Fúteis. Incultas. O público feminino queria-a esfaqueada. Os homens contraíam-se cobardemente. O ator principal assiste como se não bastasse. Suplica pela garrafa. Ele ignora-a. A água que tanto necessitava…estava a afogá-la. Desafia-o. Pinta o corpo. Fica demasiadamente colorido. Com cores para todos os paladares. Pronto. Fez do medo o desejo dos outros. Entornou todos os vinhos do ato da Severa. Deu gargalhadas das atuações em bordéis, motéis. A plateia aplaude a moral enxovalhada dos burgueses. O ator principal observa. A sua face é um misto de satisfação e expetativa. Maria Manuel aproveita a deixa. Pede-lhe mais pedra. Recusa. Não o irá derrotar. Nem pedra. Nem pão. Nem água. Diz-lhe sem dó. Sem agosto, sem garrafa, sem pedra! Bruxo. Cruel. Louco. Grita-lhe em surdina. O público reage com exaltação.

Sai de cena. O ator observa a sua descida. Guarda a garrafa de água no seu camarim. Maria Manuel tinha-a largado na bilheteria. “The show must go on”. O ator foi ganhando maior visibilidade e alcançou os mais prestigiados papéis. Uma qualquer noite, Maria Manuel volta ao teatro. Ouve as pancadas de Moliere. Assiste de pé à estreia. A água muleta. A pedra álibi. Agosto mágico. Divide a glória com o ator principal. Ele no palco. Júpiter. Ela de pé. Hera. Autor quequeasextafeira

The show must go on.

Amantes

O boémio incofesso

O pêndulo alcança o equilíbrio. O corpo inicia um movimento em sentido contrário. Como na penúltima noite, enrolei o último charro. À semelhança de uma artista, com sensualidade dancei. Pedro, o rapaz por quem estava apaixonada e com quem me envolvia. Aplaudiu a ideia, mas não apareceu. A vida boemia, suscitava-lhe repulsa, dizia-me. Estranhamente, era visto com frequência em Las Vegas. Uma cidade que mescla exotismo, boemia e bem estar. Pedro, o errante e vagabundo. Assim o conheciam. Enganou-me. Ludibriou-me.

Eu, mulher balzaquiana, amante de Pedro. Não tinha coragem para confrontá-lo. Pois, receava um “embate” violento. Na verdade, que perdesse o desejo sexual. Uma aflição. Mulher condicionada, sem sim, sem não.

Tomei uma atitude. Comprei duas passagens para o Carnaval de Veneza. O tema era “Il Gioco, l’Amore e la Folia”. Pensei comigo mesma: Pedro não teria coragem de negar este presente. Determinada, e com uma dedicação ardente, observava-o a abrir o envelope. Pedro fez um sorriso meigo e disse: – Querida não posso. Infelizmente, não. Pareceu-me ouvir uma música fúnebre, uma dança de defuntos, um desfile sangrento. Implicitamente havia um sim na sua resposta. O rosto denunciava o verdadeiro desejo de Pedro. O boémio incofesso. Pelo menos para mim. O “Não” era perentório, como se me quissese castigar. Percebi o seu poder soberano. Um direito exclusivo de si mesmo. quequeasextafeira

Mulher, sem sim, sem não.

#ilusão, #tesao, sexo, vinho

A ilusão é uma mesa posta

A ilusão é uma mesa posta. Uma garrafa de vinho e um velho transístor. A região demarcada do Douro e a Antena 1. A voz vinda da rádio e o som de cada gole de vinho.

A desilusão é não perder o juízo. Variedade de frutos espalhados na mesa. Mesa posta. Sexualmente rica e variada. A sonoridade da voz em perfeita sintonia com os frutos vaginais.

“Obviamente”. Ouve-se vindo do transístor. Chega o julgamento. Ostras postas na mesa. Em onda hertziana. Aparece o médico hermafrodito. Do vinho a garrafa. Sentença. “Mesa posta com pastéis de bacalhau”. Mas que ilusão é a nossa ? quequeasextafeira

A desilusão é não perder o juízo

#beijo,#kisses, Amantes

Beijo Negro

Trazes-me pela boca
Tecendo em meus lençóis
Bordo o teu nome
No seio umedecido
De um beijo faminto
de sede e jejum

Atrevi-me nos teus lábios
Enamorei-me por eles
Erótico cinto negro
preso à dedicatória
Do beijo que não é meu.

quequeasextafeira

Atrevi-me nos teus lábios.

Amantes, Enamoramento

Salvé o Amor

Cada um salva o Amor como pode. Crer é a sustentação de todas as formas de Amor. O Amor, às vezes, é tão necessariamente doce e suave que nele te enforcas. Na forca da papoila. Amar uma plenitude de emoções. Dísparos sentimentos fazem o Amor ter sentido. Há uma disgrafia na carne, êxtase sobrenatural. Na alma, um aparo de tinta desenha o Amor cristalizado. Há amores que se sobrepõem. Morrem lentamente sem ressurreição.

Desejo o que vem pela madrugada e me deixa sem abrigo. Creio no Amor da Alvorada. Na magia da água do lago, agora, simetria silenciosa. Amor a rocha paixão. Vai e vem com a maré. Sangra no horizonte a infinita crença dos amantes. Quequeasextafeira