Amantes, Sem categoria

Lembranças de corpos usados.

Uma pequena sala. Um biombo de bambu. Uma cesta. Uma lata com variadas folhas de chá. Um pedaço de pano de seda púrpura. O cheiro das folhas de chá era mais intenso do que o cheiro a sexo. Velhas almas… Sem rum. Sem ligas. Sem espelho. Lembrava a noite da consoada. Pouca carne e muita canela. Nostalgia. Lembranças de corpos usados; de cabazes de prazer. Mais sémen do que orgasmos.

O biombo. Belo. Perfeito. Virgem. Adornava a inquietude que ali se sentia. Via-se nas ripas a palma da mão do artesão. A linha pujante da vida. O coração na cabeça. Quantas vezes perdida.

A cesta aquecia a sala. Convidava a ficar. Uma cesta tem pão e vinho. Logo, nada nos falta. Como na ceia de Cristo. Parecia Natal. Era Natal. Agora é sempre Natal. Não são precisos motivos para celebrar; beber; oferecer; rir; chorar; amar. A cesta estava ali, há muitos anos. Como o cinzeiro. Como as paredes. Autor quequeasextafeira

Mais semen do que orgasmos.
Amantes

O boémio incofesso

O pêndulo alcança o equilíbrio. O corpo inicia um movimento em sentido contrário. Como na penúltima noite, enrolei o último charro. À semelhança de uma artista, com sensualidade dancei. Pedro, o rapaz por quem estava apaixonada e com quem me envolvia. Aplaudiu a ideia, mas não apareceu. A vida boemia, suscitava-lhe repulsa, dizia-me. Estranhamente, era visto com frequência em Las Vegas. Uma cidade que mescla exotismo, boemia e bem estar. Pedro, o errante e vagabundo. Assim o conheciam. Enganou-me. Ludibriou-me.

Eu, mulher balzaquiana, amante de Pedro. Não tinha coragem para confrontá-lo. Pois, receava um “embate” violento. Na verdade, que perdesse o desejo sexual. Uma aflição. Mulher condicionada, sem sim, sem não.

Tomei uma atitude. Comprei duas passagens para o Carnaval de Veneza. O tema era “Il Gioco, l’Amore e la Folia”. Pensei comigo mesma: Pedro não teria coragem de negar este presente. Determinada, e com uma dedicação ardente, observava-o a abrir o envelope. Pedro fez um sorriso meigo e disse: – Querida não posso. Infelizmente, não. Pareceu-me ouvir uma música fúnebre, uma dança de defuntos, um desfile sangrento. Implicitamente havia um sim na sua resposta. O rosto denunciava o verdadeiro desejo de Pedro. O boémio incofesso. Pelo menos para mim. O “Não” era perentório, como se me quissese castigar. Percebi o seu poder soberano. Um direito exclusivo de si mesmo. quequeasextafeira

Mulher, sem sim, sem não.