Conto " Pico, a montanha vulcânica"

Pico, a montanha vulcânica (capítulo VI)

Venho à tona e estás à minha frente, coloco as mãos no teu ombro instintivamente. Seguras-me pela cintura fazendo com que ficássemos colocados um ao outro. Num segundo, senti-me estátua de gelo na Noruega, e no outro, água doce a escorrer na montanha. Era vida que nascia da água como no princípio de todas as coisas. Somos interrompidos pelo velho vigia dos baleeiros dizendo que espera por ti, ao pôr do sol. Saio da água com a sensação de tudo não ter passado de uma ilusão e fui tomar um duche. No Pico, os baleeiros parecem estar por todo lado. Não os vês, mas podes senti–los, há no ar uma espécie de prisão e libertação. Esta ilha dos Açores, tanto é nostalgia como alegria. Trago um vestido branco cheio de dedadas que recriam impressões digitais, feito pela viúva do baleeiro. O tecido fora-lhe oferecido pela mulher de um americano. Percebi que tinhas ficado fascinado, mas nada disseste, saindo apressado para ir ter com o octogenário.

Ao amanhecer, já estás a tomar café quando entro na cozinha. Dás-me uma chávena de chá preto Gorreana, dizendo: – Está quente, não a partas. Tens aí a minha marca, faz com ela o que quiseres. – O teu olhar é desafiador. A chávena era igual ao meu vestido. Agradeço com os olhos brilhantes de emoção e um sorriso malandro. Imediatamente, fico com um semblante desiludido e pensativo. Lembrei-me da Rosário e da noite de amor contigo, que me descreveu. Não fazia sentido, mas tinha ido passar uns dias ao Faial, para se afastar de ti, de mim ou dos dois…nem se despediu, mas tenho a certeza que foi por isso. Levantas-te e empurras a cadeira com firmeza, puxas-me pela mão porta fora. Mal pisamos a rua solto com força a mão e lanço-te um olhar reprovador. Devolves-me o mesmo olhar e com voz de quem parecia ter as cordas vocais a ferver, dizes: -Vou-te provar, literalmente, para que nunca mais desconfies de mim nem por um milésimo de segundo.Vamos! – Às vezes parecia que me lias os pensamentos. Não te reconhecia, mas havia algo em ti, em mim, que me fazia deixar levar como vento forte que arranca pétalas de girassol. quequeasextafeira

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Agosto é quando um homem quiser

Começo a perceber por que é que a ansiedade, pânico, angústia…e todas essas merdas emocionais não têm cura. Andam sempre a pairar, quais balões de fogo, acaba-se o gás, acaba-se a diversão. Sei muito bem que me acendes o fósforo e fazes como mais nenhum faria! Mas, isto de andar a reflectir, não é para mim. Não me interessa saber os motivos e as causas. Tu é que tens que perceber, aliás, como sempre fizeste! Agora, pores-me a fazer o trabalho sozinha, é isso que tu queres, é? Queres-me abandonar, deixar-me à minha sorte? Já fizeste coisas incríveis, já te deves ter superado, és o maior, não há duvida! Não te chega? Queres que olhe para trás, entre dedos e teclas? Sim, também houve coisas divinais, mas até essas, quero que se fod@#. De que é que isso me adianta? Eu quero é recuperar toda a tesão ou ainda mais do que aquela que já tive. É isso que eu quero de volta. Eu não estou morta para viver de tudo o que o vento levou!

Quero que me ajudes a ter outra vida, sim, de outro modo, claro! Bem basta a cegueira que me persegue. Quero que me ensines a viver como se o mundo acabasse amanhã, mas com a bagagem que nesta altura transporto, mesmo pagando o excesso. Se a vida não volta para trás, então retira aquilo que sabes que tenho de melhor. Orienta-me para a emoção de vida escaldante que corre nas veias, no vento, na azinheira. Não vou andar pela sombra, nem proteger-me do Sol. O padre diz-me para ir com Deus e tu pela sombra, tem exactamente o mesmo significado. A diferença é que o padre é hipócrita e tu não. Falas-me em protetores solares. Só lá para Setembro é que é provável que me “besunte”de proteção de gelatina, Lacrima Christi, claras em castelo… Quero que a chuva me molhe e o sol me queime. Deves ser fresco, deves…por isso é que mandas os outros para a sombra. Sabes, a determinada altura, da vida, Agosto, é quando um homem quiser.

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Um cravo pelos meus pensamentos Andas triste, estás triste e não encontras nada que te satisfaça. Não queres falar, não queres sair… Mas, enquanto o teu coração bate, há flores a brotar, rios a correr, animais a procriar, há o nascente, o poente… Sei que queres a paz do campo, apreciar o poente( saboreando um pão rústico com manteiga artesanal) e duas dúzias de cravos num copo de vinho. Lá por que nunca recebeste nem deste cravos a ninguém, experimenta! É esse o encanto da vida, procurar dentro de ti, outras formas de te sentires feliz, sem esperar nada dos outros. Queres partilhar, partilha! Neste caso, sabes que é como se nunca o tivesses feito, porque só tu conheces a emoção e o sentimento que os cravos gentilmente transportam. Nada é igual a nada. Os cravos só chegam a quem genuinamente os entende. É sexta-feira, tenho um craveiro à minha espera, numa água-furtada. quequeasextafeira