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Pico, amontanha vulcânica. Fim

Caminhamos em silêncio como ambos gostamos. Mas, desta vez, sentia que o meu coração ía a galope. O mar parecia que tinha visto maremoto. O vento soprava e trazia a humidade da montanha. Até os pássaros voavam de cabeça para baixo, como se presentissem um tsunami. Tu estavas diferente. Que rasgar de manhã tão frenético. Chegamos à Cabeça do Cachorro. Quando o mar está tão agitado, o lugar torna-se perigoso e ao mesmo tempo tentador. Um cocktail explosivo. De repente, parece que desci à terra, olho para ti e continuas com um ar determinado, inabalável. Estremeci como sismo de magnitude 7, na escala de Richter, ao lembrar-me das tuas palavras. Desafiei-te perguntando se te tinhas esquecido da tal prova da tua honestidade que pensavas que eu duvidava. Se não o fizesse o meu coração tinha saltado para o mar. Pareces ignorar o que te digo e começas a descer as escadas paralelas à utilizada pelos turistas (obviamente mais perigosa) para observar o mar a bater na gruta. Cruzas os braços e olhas para mar durante cerca de um minuto. Viras-te e entras num buraco feito pelas rochas. Desço ao teu encontro, estás numa espécie de telheiro, encostado à rocha. – Vês como confio em ti! Até o Diabo deve ter medo deste lugar. – Disse-te com muita segurança na voz, mas com alguma perplexidade por não perceber o que se estava a passar. Estendes-me a mão, eu seguro-a e deixo me ir ao encontro do teu corpo. Viras-me e encostas-me à parede, trocando assim as nossas posições. Colocas as mãos nas rochas, entre a minha cabeça, e dizes-me ao ouvido: – É agora que te vou provar. – A tua voz no meu ouvido, provocou-me um suspiro mais estrondoso que o barulho do mar. Amámos-nos ali com tamanha entrega e paixão, que nem que a nossa libido estivesse guardada todos estes anos numa pipa, seria tão de outra galáxia. Olhas para mim como quem quer começar tudo de novo. Beijo-te apaixonadamente. Paro para te olhar e digo que, no teu lugar também não o teria feito. Referia-me à Rosário, claro. Nisto, surge o velho guia de baleeiro e deixa escapar um sorriso de cumplicidade para ti. Nunca o tinha visto sorrir. Saímos pois ali era o lugar dele, o lugar onde um dia queria morrer. Tu sabias disso. Sentamos-nos no banco de rocha vulcânica, aos pés do Cachorro, apanhando com chuviscos salgados. Olhas-me tranquilamente, pausadamente e perguntas quando te quero voltar a ver. Daqui a dois meses, respondo com ternura e satisfação. quequeasextafeira

José Mário Branco, Sem categoria

José Mário Branco, o prazer é meu.

Um homem lunar que rasgou a alma através da música. Tendo tido a superioridade intelectual de perceber que a música, para além de uma arma, era o colo da Mãe. Um homem que se sentiu só na tentativa de mudar este retângulo, embora ouvisse bem os aplausos. Era de uma generosidade ímpar. Dava-se aos outros até ao último pingo de suor. Mas ele era um trinco de três trancas. Tinha medo do medo, da felicidade e da morte. Sensível, solidário, combatente, patriota, gentil, inconformado e triste. Parte hoje para longe de nós, com cantos de guitarra e flores vermelhas, como tantas vezes cantou. Quando finalmente podia descobrir o amor, morre precocemente. A travessia valeu a pena porque tocou em todos os corações com quem se cruzou, através da canção ou pessoalmente. Que agora na hora da morte, antes de descer à terra, colha finalmente o amor que semeou, entre os presentes e os ausentes.

José Mário Branco, cheguei no dia da sua partida, para o conhecer. Como vê, a si, a morte não lhe leva a vida. Escusava de ter tido tanto medo. Não, o prazer é todo meu. Vá em paz e que o Amor o acompanhe. Adeus. quequeasextafeira

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Já não há espermatozoides


Cada vez mais, as mulheres queixam-se da dificuldade de encontrar um parceiro. Acresce a quantidade de homens ser em menor número do que as mulheres (em Portugal). Sabendo que são as mulheres que os escolhem, sim, quem escolhe o homem é a mulher, vão escolher o quê ? Por muito que os machos pensem, que são eles os predadores, já estão esfolados há muito. Pode pensar-se, então, que elas não sabem escolher (por vezes); porém, é mais complexa a situação. Gays é mato. Parece ser mais uma moda do que outra coisa. Mas o certo é que baralham a oferta. Os hiperativos andam sempre de um lado para o outro, conhecem bem capitais, mas não sabem nada da mulher caucasiana, negra, asiática… Há os informáticos, que continuam a ser os cromos mais difíceis de sair, não aquecem nem arrefecem. Os labregos que usam sapatos ao domingo e a pulseirinha de ouro que a madrinha lhes deu quando nasceram. “Despindo-os” ainda parece que se aproveita alguma coisa, mas pararam no canal 18. Os atrasados mentais que se expõem na galeria do Tender/Tinder como as melhores cabeças de gado. Quando se pensa que finalmente se agarrou o toiro pelos cornos, ele tem tudo, só não é toiro. Não menos importantes, os eternos putos (dos 20 aos 40) que ainda vivem debaixo das saias da mamã. Têm baixa tolerância à frustração. Preferem não fazer nada a arriscar. Depois há aqueles que a conotação diz tudo, os vegans, os vegetarianos, os do Pan…nem há conversa. Contudo, ainda há por aí espermatozoides. Dediquem-se à procura de uma agulha no palheiro. quequeasextafeira

Conto " Pico, a montanha vulcânica"

Pico, a montanha vulcânica (capítulo VI)

Venho à tona e estás à minha frente, coloco as mãos no teu ombro instintivamente. Seguras-me pela cintura fazendo com que ficássemos colocados um ao outro. Num segundo, senti-me estátua de gelo na Noruega, e no outro, água doce a escorrer na montanha. Era vida que nascia da água como no princípio de todas as coisas. Somos interrompidos pelo velho vigia dos baleeiros dizendo que espera por ti, ao pôr do sol. Saio da água com a sensação de tudo não ter passado de uma ilusão e fui tomar um duche. No Pico, os baleeiros parecem estar por todo lado. Não os vês, mas podes senti–los, há no ar uma espécie de prisão e libertação. Esta ilha dos Açores, tanto é nostalgia como alegria. Trago um vestido branco cheio de dedadas que recriam impressões digitais, feito pela viúva do baleeiro. O tecido fora-lhe oferecido pela mulher de um americano. Percebi que tinhas ficado fascinado, mas nada disseste, saindo apressado para ir ter com o octogenário.

Ao amanhecer, já estás a tomar café quando entro na cozinha. Dás-me uma chávena de chá preto Gorreana, dizendo: – Está quente, não a partas. Tens aí a minha marca, faz com ela o que quiseres. – O teu olhar é desafiador. A chávena era igual ao meu vestido. Agradeço com os olhos brilhantes de emoção e um sorriso malandro. Imediatamente, fico com um semblante desiludido e pensativo. Lembrei-me da Rosário e da noite de amor contigo, que me descreveu. Não fazia sentido, mas tinha ido passar uns dias ao Faial, para se afastar de ti, de mim ou dos dois…nem se despediu, mas tenho a certeza que foi por isso. Levantas-te e empurras a cadeira com firmeza, puxas-me pela mão porta fora. Mal pisamos a rua solto com força a mão e lanço-te um olhar reprovador. Devolves-me o mesmo olhar e com voz de quem parecia ter as cordas vocais a ferver, dizes: -Vou-te provar, literalmente, para que nunca mais desconfies de mim nem por um milésimo de segundo.Vamos! – Às vezes parecia que me lias os pensamentos. Não te reconhecia, mas havia algo em ti, em mim, que me fazia deixar levar como vento forte que arranca pétalas de girassol. quequeasextafeira

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Vagabunda, por rosa vermelha do Panamá

A verdade está numa caixa e é tão simples, tão bonita, que a vou enfeitar com rosas vermelhas. Da cor do sorriso do meu segredo. Cada uma das nove rosas guarda o sonho que toma conta de mim. O meu coração desassossegado, assim se acalmou e me fez feliz com as rosas do Panamá. Quando a emoção é genuína torna-se ao mesmo tempo numa crueldade. Os amores do ventre e do coração são tão intensos que, por vezes, doem. Como o vermelho está para a paixão e o branco para paz. Não preciso da tampa da caixa, não quero esconder a verdade de hoje nem abrir a mentira de amanhã. Viver da vida não faz mal a ninguém.

Há uma certo fascínio na ilusão. Há dias em que nos sentimos em Buenos Aires. Tango por Tango… Que o mundo me condene…vagabunda, por rosa vermelha do Panamá.

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Quero a uva, não o cacho.

Uma amiga diz-me que de um homem quer tudo o que merece; e se eu não achava que tinha razão. “Não, não tens”, disse de rajada. O seu semblante espelhou uma mistura de desilusão e raiva. Com ar altivo, mas timbre inseguro, responde-me: “Para estar com qualquer um, prefiro ficar só”. A “boca” era para mim. Permaneço como árvore de folha persistente. Sem fala e firme nas minhas convicções, contra qualquer tempestade. Quem me dera poder abrir-lhe a cabeça. Bem sei que parte desse imaginário foi sendo construído na infância, com os contos ocidentais, dos príncipes e das princesas. Tal como o tratamento diferenciado que um pai dá à filha, em relação ao que dá ao filho. O pai é mais cuidadoso, carinhoso, compreensivo, protetor…com as meninas. Mas, afinal, para que serve o primeiro amor, senão para te provar que andaste esses anos iludida. E, para merecer, no amor, é porque fizeste algo a mais e estás arrependida. Não há balanças nas relações afetivas. A existir, chama-se remorso, mas não porque te amem. Simplesmente porque se sentem frustrados. Em qualquer idade na vida se podem romper barreiras físicas e emocionais. Primeiro há que descobrir em nós o que realmente queremos. Não é como ir ao restaurante para comer peixe, vês toda a gente a comer cozido à portuguesa e mudas de ideias. Nas relações não é carne ou peixe. Há uma panóplia de opções que tens que descobrir. Não há um estereótipo como normalmente se tem pelo modo como fomos educados. Predispõe-te a errar até poderes acertar no homem que está mais próximo do que te satisfaz a ti, não aos teus pais e à sociedade. Não existe o homem que nos dá o que merecemos. O que existe é o homem por quem lutamos e nos dá aquilo que desejamos. Porque na realidade ninguém merece tudo e tudo é muito vago, acaba no fim por não ser é nada.

No amor, faz como nos banquetes, guarda-te para o fim, é sempre a melhor parte. Até lá, entretém-te com acepipes. Mais vale viveres mais tempo à procura do homem que desejas, ao invés, de viveres a vida inteira com o homem que finalmente nunca desejaste. Às vezes, é preferível querer apenas a uva do que todo o cacho.
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No Pico, a montanha vulcânica (capítulo V )

Na minha biblioteca há muitos livros e objectos que têm uma estória vivida por mim. Não vivo do passado, mas gosto daquilo que representa. É o meu H2O. Tinha na mão uma rolha de uma garrafa de vinho, tomada numa ocasião especial, quando ouço a Rosário chamar. Desci e ela começou rapidamente a falar como se tivesse o tempo contado. – Sei que tens cá uma visita, desculpa, mas tinha que te vir contar. Ele anda por cá e encontrou-me à porta de casa. Perguntou se ainda estava de pé, o jantar que tinha falhado. Num instante, criei um ambiente especial. Valeram a pena estes anos de espera, sabes… É um homem pujante, sensual, quente, activo, vigoroso. Foi toda à noite a fazer amor! Sinto-me com menos vinte anos. Nisto, chegas tu com figos na mão. Se estivessem na mãos dela, tinha-os deixado cair. Pergunta, estupefata, se eras tu a minha visita. Despede-se atrapalhadamente.

Precisava recuperar o raciocínio, dar uma lógica aos meus pensamentos. Estava eu pronta para sair quando me interpelas, num tom carinhoso, dizendo que os figos eram para o nosso lanche. Nem comento, saio e meto-me no carro a caminho do jardim de São João. Observo os gamos na sua tranquilidade habitual. Passeiam-se na terra e em cima de pedrinhas como se pisassem um tapete de relva. Aproximo-me de um que se manteve impávido e sereno a mirar-me. Não me pediu comida, nem uma carícia. Dei-lhe uma folha e uma festinha, pareceu satisfeito. Afastei-me e fui sentar-me num banco de madeira, a ver o mar. Refleti acerca do episódio com o Gamo e concluí que o bicho esperava tudo e não esperava nada. Fantástico!                                                                             

Entrei em casa e fui despindo a roupa, deixando-a espalhada por onde passava, em direção ao mar. Vi-te de relance, deitado na rede. Mergulho como quem está a morrer de sede. Mergulhas de seguida, como papel em chama. Ficámos numa espécie de trapézio,   com pouco ar, muito fogo e água a rojo. Não aguentas o equilíbrio, cais e puxas-me contigo. Era agora ou nunca, pensei eu.                                  

Gamo do Pico.
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Lingerie de seda

Gostava de te guardar numa caixa, numa bela caixa. Imagina… Enfeito-a com as cores das acácias e perfumo com folhas de hortelã. Ninguém dirá que era caixa da minha lingerie encarnada. E tu nunca comentarás com ninguém, como sempre! Sentes-te aconchegado, na copa do corpete, aquecido pela cor. Movimentas-te em círculos, de pernas para o ar, na diagonal e na horizontal, passando de uma copa para outra. Não tinhas horas para dormir. Só paravas quando o corpo te pedia encarecidamente. Adormecias com a cabeça pousada na parte do tecido triangular das minhas cuecas. Há muito que ansiavas fugir do rebuliço da cidade e de todas as pessoas. Sentiste-te como nunca e isso impressionou-te. Tiveste a sensação que tinhas vivido pouco e/ou mal. A idade também já fazia com que vivesses estes momentos, saboreando, sentindo com mais intensidade na alma e no corpo, apreciando com prazer redobrado e gozando por todos os poros. Nem sequer sentias fome, mas precisavas de te alimentar. Deixava folhas frescas de amoreira branca em cima das minhas ligas. Desapareciam rapidamente. Com as tuas delicadas mãos de artesão, sujas com fios de fibra muito fina, puxaste-me para ti. Vestiste-me a lingerie, ao mesmo tempo, que ias tecendo um casulo à nossa volta. Apanhamos-nos livres das leis do Homem e ficamos presos às leis da Natureza. Nessa prisão descobrimos a liberdade. Finalmente, pude sentir-te como homem, sem máscaras, sem nenhum compromisso, sem cerimónias. Voamos despidos pelo teto do Mundo. À procura do mais belo lugar, para parir um amor único, inconfundível, genuíno, suave como a seda. quequeasextafeira

Lingerie de seda
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Homem Macho Homem Pan

O homem Macho latino tornou-se, nos últimos anos, uma “espécie” rara. Se fosse cotado em bolsa, valeria uma fortuna e estaria sempre em alta. Ao contrário, o homem Pan é o que há mais. Mas não vale uma, nem por caridade. O Macho latino não passeia o “Lulu” e a “Lili” às seis da manhã ou à meia noite (simplesmente não passeia cãezinhos). Mas ceia com uma mulher e leva-lhe o pequeno-almoço à cama, com carinho e festas pelo corpo todo. Com o homem Pan, o mais provável é a mulher acordar com o focinho do cão no seu ombro e lambidelas caninas de bom dia. O Pan vai ao cinema e não come pipocas, para que não falte milho às galinhas; o Macho latino pede o balde maior. Vai ao supermercado, direito à garrafeira, aos queijos e, por fim, vai buscar as lâminas de barbear. O Pan vai direito às Whiskas, aos kleenexs, acabando na quinoa e grão de bico. As indumentárias são desmaseladas, percebe-se que a roupa foi lavada misturada com as pantufas do cão e a manta da gata. Pendurada pelas pontas, deixada dois dias no varal e esticada com as mãos. O Macho latino parece que acabou de comprar a roupa. Sempre impecável, mesmo de jeans. Paradoxalmente, o fetiche do Pan é o talhante, do Macho latino a coelhinha. O Macho latino partilha contigo um bom naco de carne. O Pan partilha lentilhas, mas, às escondidas, é comum vê-lo comer um belo de um cachorro quente. O homem Pan não vale um caroço. O homem Macho latino vale uma, duas, três… isso mesmo !

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Pico a montanha vulcânica (capítulo IV)

Conheci a Rosário nos Açores, no cais do Faial. Às vezes, só ia à Horta, para tomar um gin no Peter’s, e admirar o Pico. Não me cansava de olhar para a montanha vulcânica como quem olha para um filho quando nasce. A Rosário ia com mais frequência à Horta visitar a sua madrinha. Conhecemos-nos no barco e logo empatizámos uma com a outra. Ela tinha ido jovem para o Continente para ingressar na faculdade. Por lá ficou até há quatro anos, quando resolveu voltar definitivamente. Tinha ido sozinha e logo se integrou num grupo de boémios. Estudou Letras mas preferia ter ido para Artes. No entanto os Pais não concordaram. Mulher criativa, empreendedora, sensível, mas com um espírito vanguardista que a levou a ter alguns problemas profissionais e pessoais. Confidenciou- me que nunca conseguiu ter nenhum relacionamento sério, falhava sempre alguma coisa que, na verdade, nunca descobriu. Vivia de affaires e sexo, sempre que possível. Há cinco anos, quase enlouquecera por causa de um homem. Apaixonou-se, chegando até a considerar que estavam predestinados (não sendo ela nada de crendices). Passou mal, segundo ela. Nunca chegaram a envolver-se fisicamente. Contudo, chegaram a tomar alguns cafés, mas ele esquivava-se passado pouco tempo. No dia em que se comprometeu ir jantar a casa dela, não apareceu. Foi nesse dia que decidiu voltar para o Pico. Dedicava-se à pintura e à elaboração de bonecos feitos de folhas do dragoeiro. De vez em quando, íamos tomar um licor à adega e ficávamos cerca de duas horas a conversar.

Já tinha amanhecido. As nuvens a meio da montanha pareciam colocadas de madrugada, cuidadosamente, como que por magia. Aquela permanente humidade no ar, dava-me, diariamente, uma sensação de imortalidade. Apareces, quando estava a lavar roupa no tanque. Para mim, era uma tarefa terapêutica. Os movimentos contínuos da esfrega, da passagem por água e, finalmente, o de enrolar a roupa e batê-la com força no tanque, organizavam os meus pensamentos. Observas-me, estático, como se fosses varal à espera da roupa. De repente, pareces despertar de uma alucinação e “disparas” dizendo que tinhas ficado a dever um jantar à Rosário. Como a conhecias bem, tinhas a certeza de que ela me tinha contado a vossa estória. Não é que não me tenha passado pela cabeça que o homem eras tu, mas de imediato afastei essa hipótese. Não queria crer. Via-te como um homem virgem, experiente, sedutor, provocador, vivido, mas virgem. Senti-me como se uma varinha mágica me tivesse passado ao lado. Tinha que arranjar maneira de te fazer partir antes do tempo.

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