O sonho é Meu. Fantasia ou toxicidade…o sonho é Meu. Nas asas da primavera, o Meu sonho, vai para onde eu quiser. Não sonhas, o Meu sonho, na tua direcção… Leva-me, soprado pelo vento quente da montanha. O Meu sonho, espelha-se no lago, espelha-se no teu espelho, espelha-se em mim. Mas, o sonho é só Meu. O homem que reconheço e o que não reconheço no sonho, é Meu. O incendiário, do Meu sonho, o fogo não apaga. O homem não foge, adormeço. A ponte rui…seguro-me nas penas, do Meu sonho. Egoísta; narcisista; possessivo; libidinoso; misterioso; complexo; límpido…o sonho é Meu. @quequesasextafeira
Se tu não tivesses limites…se tu fosses livre… levava a minha liberdade ao encontro da tua. És como folha de outono. Voas ao relento.Só me posso abrigar em ti…nos intervalos do vento.
Sou nascente, foz, afluente. Vou afogando os meus limites. Reinventando caminhos…não tenho pedrinhas a ensinar o destino. Navego entre os “eus” e “eles”. Sou livre de me perder a oriente. @quequesasextafeira
Vejo-te semi-nu entre a rede e o mar. Pareces a tua primeira vez. Impreparadamente preparado para ir à escola, ao treino, à faculdade, à tropa, ao primeiro encontro. Hoje não tens maquinista. Estás perfeito na tua eterna imperfeição. Assim, nem parece que não desmontaste a árvore de natal. Toda a vida testemunha. Sem tomar a iniciativa. Chegavas no segundo parágrafo da estória ou nem sequer chegavas! Da tua e da dos outros. O teu corpo, nesta suave transparência, parece tão pouco usado…transpiras inocência, mas dão-te por condenado. Parece que deixaste o cigarro apagado. A tua face tem um tom de outro lugar. Talvez não pertenças aqui. Por isso, és a tua primeira vez, entre a rede e o mar. @quequesasextafeira
Noite da consoada. É inverno no bairro. Frio, escuro, húmido, sombrio. Os putos brincam na rua. A escuridão da noite não lhes tira o brilho do olhar. O frio que se faz sentir não lhes enrigesse o sorriso. Roem maçãs pela rua, num mar de gargalhadas, danças e chutos na bola. Numa das casas do bairro (social) reúne-se a família, família da família, amigos que são família. Se o natal é apenas família, então, a prosa acaba aqui.
Mas há mais. Cores, cheiros, sabores que a memória guarda tão bem. No bairro sequer surge no imaginário. Há panelas grandes cheias de cachupa e cocada. Há água da torneira, cervejas e whisky barato. Mornas e saudades atravessam as paredes e o mar. Os putos felizes na rua.
É tudo diferente no condominio ali ao lado. Não é um continente que os separa. São muralhas de insensibilidade feitas gente indiferente.
Os putos do bairro não sabem a magia do natal: da cocacola; dos doces; dos presentes, da lareira; do presépio. Mas vivem uma realidade mágica. A liberdade de serem crianças. Feitas de tombos; cicatrizes; rotos; constipados; amarrotados; sem colo. Flhos de sobreviventes migratórios. No fim da Saudade, da Mãe Cesária, cantam Vida, Amor e Solidariedade. No bairro é que é Natal. @quequesasextafeira