Amantes, vinho

Hey – Branco ou Tinto ?

– Hey ! Aquela interjeição apanha-me de costas. Era a minha cruz. Leve. De ráfia como a minha sacola. O timbre daquela voz. Há muito. Não a ouvia nascer assim. Sol. A diferença estava na respiração. Apenas. As falas eram sempre em monóxido de carbono. Aqui, respira-se vinha. Fala-se em oxigénio. Podia ter me interpelado com um: “Uva”. Estamos a 165 metros de altitude. Sinto o vulcão ativo. Gota a gota saboreio a expiração. Do H. Do E. Do Y. Descubro o silêncio dos anos cinquenta. “Hey!”. Vindo daquele corpo?! Extraordinariamente extravagante… Bebo vinho pelo xisto. Provocatoria(mente) digo: – Património Imaterial da Humanidade.
-Ahahah. Noviça. Muito bem!
Quer vindimar comigo. Hum… Videiras infindáveis. Escolho um socalco. Branco ou tinto? Não pergunto. O melhor vinho é o que vai para o convento. Segue-me. No lagar pisamos as uvas. O aroma aguça o apetite. Sugiro irmos para a pipa. – Hey ! Autor.quequeasextafeira

Do H. Do E. Do Y.

Amantes

Um minuto de Lua

Ofereço-te. Toda ela. Vestida de chama ardente. Nem o arco-íris tem essa cor. É a mais bela de todas. Nunca, ninguém viu essa cor. Sentas-te. Aparece a teus pés. Magnífica. Soberba. Deslumbrante. Sensual. Confiante. És Rei. Aí a tens. Nascida para ser tua. Só. Só tua. As velas brancas dos barquinhos invejam-te. As andorinhas e o cargueiro. Nada te faz desviar o olhar. Ela enche-se. De orgulho. Junto a ti nada a faz minguar. Poderosa. Majestosa. Nunca mais a vais esquecer. É uma relação cósmica. É a tua oportunidade. Tens uns minutos. Aproveita bem este meu presente. Sabes desfrutar. Sabes bem o que vale a vida. Ela vai subindo por ti. Entras em êxtase. Ela sobe mais. Ergues as mãos ao céu. Sem telescópio. Sem bússola. Não sabes. Suicidas-te ou atiras-te da ponte. O luar ilumina-te. És Deus. És Rei. És Tejo. Ela é só um satélite. É a lua. É o minuto que eu gostaria de ser. Ofereço-te a última lua cheia do Verão. Autor. quequeasextafeira

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Quero olhar para si

Indíca acorda antes do dia amanhecer. O céu de um cinzento muito escuro quase não deixa antever o dia. Explosões de gaivotas anunciam tempestade no mar. Sexta-feira de inverno… Procura-o, e ele pergunta :
– Que aconteceu ?
– Quero olhar para si…
Ele retira os óculos da ponta do nariz. A pinta que lhe davam os óculos, pensou para si. O brilho do seu olhar, enquanto o observava fez também o sol, lento, resplandecer. Disse :    -Estou a olhar para si.
-Recordo-me desse seu olhar – diz ele.
Produz-se uma mudança, subitamente, mais intensa. O homem permanece parado, mas inexplicavelmente, Indíca, de cada vez que o observava, ele parecia sempre diferente. Em cada (não) expressão o charme aumentava. Como os nove graus, do início da manhã, já passaram para treze. Não trocava o inverno pelo verão só para o poder olhar, mesmo que, pontualmente. De repente, ele move-se e diz-lhe:
-Vá, não deixe passar a sexta-feira.

quequeasextafeira

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Agosto é quando um homem quiser

Começo a perceber por que é que a ansiedade, pânico, angústia…e todas essas merdas emocionais não têm cura. Andam sempre a pairar, quais balões de fogo, acaba-se o gás, acaba-se a diversão. Sei muito bem que me acendes o fósforo e fazes como mais nenhum faria! Mas, isto de andar a reflectir, não é para mim. Não me interessa saber os motivos e as causas. Tu é que tens que perceber, aliás, como sempre fizeste! Agora, pores-me a fazer o trabalho sozinha, é isso que tu queres, é? Queres-me abandonar, deixar-me à minha sorte? Já fizeste coisas incríveis, já te deves ter superado, és o maior, não há duvida! Não te chega? Queres que olhe para trás, entre dedos e teclas? Sim, também houve coisas divinais, mas até essas, quero que se fod@#. De que é que isso me adianta? Eu quero é recuperar toda a tesão ou ainda mais do que aquela que já tive. É isso que eu quero de volta. Eu não estou morta para viver de tudo o que o vento levou!

Quero que me ajudes a ter outra vida, sim, de outro modo, claro! Bem basta a cegueira que me persegue. Quero que me ensines a viver como se o mundo acabasse amanhã, mas com a bagagem que nesta altura transporto, mesmo pagando o excesso. Se a vida não volta para trás, então retira aquilo que sabes que tenho de melhor. Orienta-me para a emoção de vida escaldante que corre nas veias, no vento, na azinheira. Não vou andar pela sombra, nem proteger-me do Sol. O padre diz-me para ir com Deus e tu pela sombra, tem exactamente o mesmo significado. A diferença é que o padre é hipócrita e tu não. Falas-me em protetores solares. Só lá para Setembro é que é provável que me “besunte”de proteção de gelatina, Lacrima Christi, claras em castelo… Quero que a chuva me molhe e o sol me queime. Deves ser fresco, deves…por isso é que mandas os outros para a sombra. Sabes, a determinada altura, da vida, Agosto, é quando um homem quiser.

quequeasextafeira