A tua bala é certeira. Não és perfeito, mas és um excelente atirador. Quem prova da tua bala nunca mais esquece o seu sabor. O teu projétil metálico é de ouro. Como o silêncio. És eficaz. Quem te devolve o tiro deixa as balas perdidas. Lanças um pião. Bebes água da fonte. Apanhas um figo. Esperas tranquilamente pelo castigo. Não está à altura do disparo. Pareces o Marquês do alto do seu cavalo. Beijas e dizes adeus.
Uma vez Mulher, não abates. Não atiras contra ti próprio. Contigo usas mísseis. Já nem a morte te faz perder a cabeça. Não és louco. Mas já te deixaste enlouquecer. Sou livre. Livre o suficiente para te desafiar. -Posso puxar o gatilho? -Experimenta. Afirmas. Peço-te dois dias. Entalas a boca no gatilho. O cano apontado a meu peito. Dois dias. Repito. O teu dedo impaciente. -Quero esgotar todos os sonhos. Uma vida assim. Assim, absurda, não volta mais.Perdida por uma bala tua. Perdida por mil. Toma-me no teu cano. E sê justo para ti… quequeasextafeira
Meia noite. Sexta-feira. Sexta- feira, um de Janeiro. Verão. O Sol em agosto. Allelujah ! Brindo. Brindo. Os dois cubos de gelo são passas. Peço um desejo. Noutros tempos, incluia-me. Hoje, o desejo é ímpar. A hortelã do mojito nos lábios salgados.
Peço quinze minutos. A areia desliza pelo meu colo e pela nuca. Arrepios de areia. Há um deserto. Assim, há 25 anos. Janeiro em agosto. Levo figos, canela e chocolate de São Tomé. Aos catorze dias. Allelujah! O sol, a brisa, a espuma do mar. Vens anunciar o outono. Tu, O último pôr do sol. Encarnado. Ferro e Fogo. Ferrero e Pedro. “Cem” Vergonha, o desejo. Allelujah! quequeasextafeira
O pêndulo alcança o equilíbrio. O corpo inicia um movimento em sentido contrário. Como na penúltima noite, enrolei o último charro. À semelhança de uma artista, com sensualidade dancei. Pedro, o rapaz por quem estava apaixonada e com quem me envolvia. Aplaudiu a ideia, mas não apareceu. A vida boemia, suscitava-lhe repulsa, dizia-me. Estranhamente, era visto com frequência em Las Vegas. Uma cidade que mescla exotismo, boemia e bem estar. Pedro, o errante e vagabundo. Assim o conheciam. Enganou-me. Ludibriou-me.
Eu, mulher balzaquiana, amante de Pedro. Não tinha coragem para confrontá-lo. Pois, receava um “embate” violento. Na verdade, que perdesse o desejo sexual. Uma aflição. Mulher condicionada, sem sim, sem não.
Tomei uma atitude. Comprei duas passagens para o Carnaval de Veneza. O tema era “Il Gioco, l’Amore e la Folia”. Pensei comigo mesma: Pedro não teria coragem de negar este presente. Determinada, e com uma dedicação ardente, observava-o a abrir o envelope. Pedro fez um sorriso meigo e disse: – Querida não posso. Infelizmente, não. Pareceu-me ouvir uma música fúnebre, uma dança de defuntos, um desfile sangrento. Implicitamente havia um sim na sua resposta. O rosto denunciava o verdadeiro desejo de Pedro. O boémio incofesso. Pelo menos para mim. O “Não” era perentório, como se me quissese castigar. Percebi o seu poder soberano. Um direito exclusivo de si mesmo. quequeasextafeira
Casa-se. Dirige-se para o altar. Invisível aos olhares, leva consigo Madalena. Paixão intensa, profunda, sofredora. Paixão! Durou três estações.
Madalena fora estudar para fora. Conhecera outro jovem e deixou-o. António emagreceu. Perdeu a cor, o ânimo, o vigor.
Estremece ao ouvir a marcha nupcial. Maldito Wagner. A mãe faz-lhe sinal. Vira-se para ver a noiva entrar. Maria do Carmo é a felicidade andante. Sente-se mais seguro. A chave. Tinha três hipóteses. Esquecer. Amar. Desistir. Olha para o pai. Vê um homem orgulhoso. A mãe, por sua vez, depositava toda a Fé no seu casamento.
Ouve em surdina. “Casou-se bem”. Não conheceram Madalena. A sua pétala malmequer. Carmo…”a minha mulher”. Soou mal. Como a música de “Consagração à Nossa Senhora”. Quis o seu nome. Sente-se numa relação de consanguinidade. A aliança. Uma mentira no seu dedo. Uma escritura de comunhão total de bens. Afinal, resumia-se a isso. Conclui António. @quequeasextafeira
A ilusão é uma mesa posta. Uma garrafa de vinho e um velho transístor. A região demarcada do Douro e a Antena 1. A voz vinda da rádio e o som de cada gole de vinho.
A desilusão é não perder o juízo. Variedade de frutos espalhados na mesa. Mesa posta. Sexualmente rica e variada. A sonoridade da voz em perfeita sintonia com os frutos vaginais.
“Obviamente”. Ouve-se vindo do transístor. Chega o julgamento. Ostras postas na mesa. Em onda hertziana. Aparece o médico hermafrodito. Do vinho a garrafa. Sentença. “Mesa posta com pastéis de bacalhau”. Mas que ilusão é a nossa ? quequeasextafeira
Os dois não crêm no destino. Também não precisam. É completamente irrelevante. Passam a “Patra”, o Século e a Pandemia. Onde é que já não vai o destino! O tempo voou. Como tinha de voar. Nem mais nem menos. Ambos, não são como os pombos. São livres. Porém, padecem da liberdade dos afetos. A mulher, por vezes, sente uma súbita vontade de o puxar para si. Assim, de repente, como se acordasse de uma anestesia. Prepara-se para a fuga. Qual leoa! Sem se acobardar, sem duvidar, sem hesitar. Se o destino fosse uma realidade, não fugia. O predestinado, para ambos, nunca, seria posicionarem-se em simetria. Como não creem no fado, a mulher, não deixa a tesão em casa alheia. Drogue-me, então…
A vida só vale pela vida. Por mais nada. quequeasextafeira
Os nossos passos podem fazer-nos tropeçar. Um passo nunca pode ser maior do que a perna. Fica a sensação que todo o caminho percorrido foi em vão, mas nunca é. Não é preciso dar um passo atrás, basta permaneceres um tempo no mesmo sítio. Não parece verbo, mas é. A vida não é um mapa. Não escolhemos onde queremos parar. Contudo, decidimos o caminho a tomar. Parar e retomar é sempre mais difícil. Parece que o sonho mais belo não volta mais. Não sabes responder ao que fazes ali. Na verdade, não precisas de perguntas. Sabes que ali é onde deves ficar. Há momentos, em que só nós podemos fazer algo por nós, mais ninguém. Não adianta querer saber o que é o Amor se não o reconheceres dentro de ti. Esta descoberta dói, fere, magoa. Nunca sara. O Amor é a ferida mais bonita que te podem oferecer. Agora, sim, continua a caminhar. quequeasextafeira
Cada um salva o Amor como pode. Crer é a sustentação de todas as formas de Amor. O Amor, às vezes, é tão necessariamente doce e suave que nele te enforcas. Na forca da papoila. Amar uma plenitude de emoções. Dísparos sentimentos fazem o Amor ter sentido. Há uma disgrafia na carne, êxtase sobrenatural. Na alma, um aparo de tinta desenha o Amor cristalizado. Há amores que se sobrepõem. Morrem lentamente sem ressurreição.
Desejo o que vem pela madrugada e me deixa sem abrigo. Creio no Amor da Alvorada. Na magia da água do lago, agora, simetria silenciosa. Amor a rocha paixão. Vai e vem com a maré. Sangra no horizonte a infinita crença dos amantes. Quequeasextafeira
NÃO, não vai tudo ficar bem. NÃO, o arco-íris não tem um pote de ouro no fim. NÃO, ninguém vai mudar. NÃO, não há assim tanta solidariedade. NÃO, a pandemia não é para todos. A pandemia é para os infetados, profissionais de saúde, polícias, bombeiros, homens do lixo, voluntários. E para muitos portugueses que estão a braços com a sua sobrevivência e dos filhos. Os outros estão numa animada e rica folia. A Quarentena dos Hastags, dos Emojions, dos Posts Caricatos, dos Dotes e das Vaidades. – Bom dia, “mor”! Vou fazer panquecas com mirtilos e geleia de linhaça. Estou a fazer um curso online com a Bibibocadoce. Põe aquela toalha nova dos ananases e a louça a condizer. Tira-me uma foto para o Insta. Vou tagar #ficaemcasa. Vai ser um sucesso! Ao meio-dia vou ver o live da Croquetasalmarinho. Quero fazer para o almoço uma quiche de escargot e ervas finas. Tudo vegan, light, vegetariano. Aproveito e faço um detox da carapaça do escargot. Sim, não me esqueço de mandar vir a tua pizza e a cerveja. Já estás pronto para a aula de fitness do clube? Leva só o meu boné com a estampa de crocodilo. A esta hora está muito sol no jardim. O meu maquiador online, o Pincelrosa, não me deixa bronzear a pele. Senão a maquiagem não sobressai. Por falar nisso, já veio a minha encomenda dos cremes, loções e maquiagem da loja Ricemilk? A Pipi disse-me que o creme de baba de camelo faz milagres ! Vou já para o duche. Não, primeiro vou publicar a foto com o hastag #stayathome da aula com o Manelgluteo. Em inglês tem mais visualizações. Deixa-me ligar à Chicibé. Está online! Vou dizer-lhe para aparecer, às 17h00m, na sessão de coaching, do Coxoinseguro. Não vejo a hora de dar um salto quântico. Quando formos à meia-maratona vou ganhar à Marmona. Hahaha…Na fotografia da sessão vou tagar #bebrave. Já me esquecia de beber a água aromatizada de casca de batata doce. Mor, larga lá o campeonato do Fifa. Vem fazer um skype para os meus pais e para os teus. Diz-lhes que já encomendei mais máscaras, luvas e álcool gel para irem à farmácia e ao supermercado. Agora, vamos lá fingir que estamos a ler um livro e publicar a foto no Insta com o tag #leiaemcasa. Enquanto estás em teletrabalho vou para o sofá ler a Luxa e a Carasdepau. Quero ver o que é que as pirosas fazem na quarentena.
Momento Social Time: Facebook, Instagram, Wattsap. Perco horas nisto. Môor! Estou aqui a ver um curso de restauro da Nenecerejeira de Mogno e Cânfora! Não acredito! Vou inscrever-me e restaurar a minha cama de solteira. Vai começar não tarda. Podes fazer-me a sopa de alface e milho para o jantar ? Vou começar o curso, e, depois, tenho sessão de coaching. Às 19h30m, vou assistir ao concerto do Abrunho, ok? Pê, querido, já não aguento mais essa conversa dos mortos e infetados pela covid19. Deprime-me. Só de pensar que agora podíamos estar em Milão. Já te deram o voucher com o reembolso? Neste caso, como fica a despedida de solteira da Nini, em Barcelona? Em novembro espero bem estar em Nova Iorque! Esta noite vou terminar a temporada da Casa de Cartão, na Netflop. Está quase na hora de irmos para a varanda aplaudir os nossos heróis. Faz um vídeo e não te esqueças de tagar #vaificartudobem😜 quequeasextafeira